Com 84% dos votos, escola onde estudaram Dilma e Henfil rejeita adesão ao modelo cívico-militar
11/07/2025
(Foto: Reprodução) Votação no Colégio Estadual Central, em BH, faz parte de consulta às comunidades escolares sobre proposta, iniciada pela Secretaria de Educação em 30 de junho. Fachada do Colégio Estadual Central, em Belo Horizonte
Flávia Cristina/TV Globo
A Escola Estadual Governador Milton Campos, em Belo Horizonte, conhecida como Colégio Estadual Central, fez uma votação, nesta quinta-feira (10), sobre a possibilidade de adesão ao modelo cívico-militar. Com 84% dos votos, a proposta do governo de Minas, que pretende dividir a gestão das instituições de ensino entre educadores e militares, foi rejeitada.
A assembleia reuniu membros da direção, professores e alunos (veja, abaixo, como foi a votação). Agora, a escola tem até 18 de julho para encaminhar a decisão à Secretaria de Estado de Educação (SEE).
Ao todo, cerca de 700 unidades da rede pública estadual deverão realizar o mesmo processo para informar ao governo de MG se pretendem ou não aderir à iniciativa. Apesar das assembleias, a eventual implantação do modelo ocorrerá em escolas selecionadas e não necessariamente em todas as unidades onde houver manifestação favorável à adesão. Atualmente, nove instituições de MG já funcionam no esquema cívico-militar.
Resultado da votação
Segundo o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), a maioria dos votantes foram estudantes. Profissionais da educação totalizaram 72 votos, sendo 54 contra o projeto e 18 a favor. Veja o resultado geral da votação:
Total de votos: 357
Contra: 315
A favor: 40
Brancos ou nulos: 2
"O resultado da eleição, com mais de 80% de rejeição, em uma escola histórica, mostra o quanto esse projeto é desastroso e a comunidade não aceita. É uma proposta que não resolve problema de índices de aprendizagem nem de disciplina. Não é colocando militar dentro de escola que se soluciona uma questão estrutural da sociedade", explicou a coordenadora do departamento de comunicação do Sind-UTE, Marcelle Amador.
No Colégio Estadual Central já estudaram personalidades como os ex-presidentes da República Getúlio Vargas e Dilma Rousseff, o ex-governador de MG Fernando Pimentel, o músico Toninho Horta e os irmãos Henfil e Betinho.
Rousseff, Pimentel, Horta, Henfil e Betinho estudaram na escola já quando ela tinha sede em Belo Horizonte.
Já o ex-presidente Getúlio Vargas foi aluno quando o colégio ainda se chamava Escola de Ouro Preto, então capital de Minas Gerais, antes da transferência, em 1897. Ele fez os estudos secundários (atual Ensino Médio) na unidade por alguns meses, quando retornou à sua cidade natal, São Borja (RS).
"Uma vitória gigantesca e de resgate do destaque estudantil que sempre existiu. A proposta do governo ignora as verdadeiras necessidades da comunidade escolar, como infraestrutura, valorização dos professores, merenda de qualidade, acesso e permanência", disse o representante da União Colegial de Minas Gerais, Leonardo Evangelista de Souza.
Modelo cívico-militar
O Estadual Central é uma das mais de 700 instituições de ensino incluídas no processo de consulta para implementação do Programa de Escolas Cívico-Militares.
O projeto foi anunciado pelo governo de Minas mesmo após determinação do governo federal para a descontinuidade da proposta, iniciada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (leia mais abaixo e veja vídeo). Noventa e cinco dessas escolas estão em Belo Horizonte.
De acordo com o governo de Minas, a proposta prevê uma gestão colaborativa entre Secretaria de Educação, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, para a promoção de valores como respeito, responsabilidade, cooperação e disciplina.
"O objetivo é contribuir para a melhoria da convivência escolar e o fortalecimento da cultura de paz. O modelo não implica mudanças na estrutura pedagógica, curricular, de pessoal ou de gestão das escolas", disse a SEE.
Procurada pelo g1, a Secretaria de Estado de Educação apenas informou que está acompanhando a nova etapa do Programa das Escolas Cívico-Militares, que tem como foco a escuta ativa das comunidades escolares. O governo não se manifestou sobre o resultado da votação e as falas dos movimentos estudantis.
O vídeo abaixo, de 2023, aborda o encerramento, pelo governo federal, do Programa de Escolas Cívico-Militares criados no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro:
Entenda o que era o Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares, criado por Bolsonaro
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