Comando Vermelho: como a facção se espalhou pelo Brasil e desafia o combate ao crime organizado no país

  • 02/11/2025
(Foto: Reprodução)
Como chegamos a esse ponto? Comando Vermelho está em expansão desde que foi criado dentro de um presídio O Comando Vermelho nunca deixou de crescer desde quando surgiu dentro de um presídio no fim dos anos 1970. São mais de 4 décadas ampliando o domínio de territórios. O Fantástico mostrou como o crime organizado tem sido combatido ao longo desse tempo. As barricadas delimitam a fronteira entre dois mundos no Rio de Janeiro: de um lado, o território livre; do outro, a área controlada pelo crime organizado. Em diversas regiões da cidade, a polícia só consegue entrar à força, enfrentando intensos tiroteios. Quando as forças de segurança encontram esses obstáculos, o resultado é quase sempre o mesmo: a população fica no meio do fogo cruzado. Barricadas impedem a entrada de policias em comunidades do RJ Reprodução/Fantástico Mesmo após confrontos, o Estado não consegue se estabelecer nesses locais. O poder de impor o terror e o domínio territorial continua nas mãos dos criminosos. Uma dessas ações de enfrentamento ocorreu na megaoperação da última terça-feira (28). O objetivo era cumprir mandados de prisão nos Complexos do Alemão e da Penha e, inclusive, prender criminosos de outros estados que usam as favelas do Rio como esconderijo. O alvo da operação também é impedir o avanço do Comando Vermelho (CV), a facção criminosa mais antiga do Rio. O Secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, afirma que são desses dois complexos que partem todas as diretrizes e decisões da cúpula do Comando Vermelho para todo o país. A trajetória da facção na zona de controle O Comando Vermelho tem uma história de quatro décadas. A facção nasceu na década de 1970, dentro do presídio de Ilha Grande, no estado do Rio. Durante a ditadura militar, presos comuns e presos políticos dividiam as mesmas celas. A organização, que dizia combater a tortura nas cadeias, era a Falange Vermelha, que depois adotou o nome atual. Nos anos 1980, o dinheiro dos assaltos a banco financiou o investimento de um novo negócio: o tráfico de drogas. A Colômbia se torna a grande produtora de cocaína, e o Rio vira um dos centros das novas rotas. Com isso, o CV se fortalece e passa a dominar territórios. A coordenadora do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (Geni/UFF), Carolina Grillo, explica que a grande circulação de dinheiro levou a uma disputas entre quadrilhas pelo controle. As disputas internas provocam divisões na facção e o surgimento de rivais. Surgem grupos como a ADA (Amigos dos Amigos), que perdeu força, e o Terceiro Comando, que deu origem ao TCP. O TCP é hoje o principal rival do CV no Rio. Tentativas de enfraquecer a facção, como a transferência de chefes para presídios federais em 2006, não impediram o crescimento do grupo. A operação de retomada dos complexos do Alemão e da Penha, em 2010, acabou por contribuindo para que o Comando Vermelho se espalhasse. O mapa de domínio da facção mostra que a fuga dos traficantes para a Baixada Fluminense e o interior do estado marcaram uma nova etapa de controle. Foi a mesma rota feita no confronto na última terça-feira, o mais sangrento já testemunhado pela cidade. Autoridades dizem que não vão recuar na pacificação do Complexo do Alemão O que se sabe e o que falta esclarecer sobre a megaoperação no RJ A partir de 2016, o Comando Vermelho rompeu relações com outra facção que domina o tráfico de drogas, o PCC. A disputa envolvia o controle das rotas no Norte do país e as alianças com outras facções locais. Naquele mesmo ano, o PCC assassinou o narcotraficante Jorge Rafaat, que dominava o tráfico na fronteira Brasil–Paraguai, e passou a controlar essa rota. O Comando Vermelho perdeu espaço nas fronteiras, mas manteve o crescimento no Rio — e passou a controlar regiões inteiras, principalmente na Zona Oeste, área que até então estava sob influência das milícias. A polícia diz que o traficante Doca, chefe da facção nos complexos da Penha e do Alemão, liderou a expansão para cerca de 50 territórios, entre bairros e favelas da capital e da Baixada Fluminense. Ele era um dos procurados na operação da semana passada, mas não foi preso. Hoje, o Ministério da Justiça registra a presença do Comando Vermelho em pelo menos 23 estados. E onde chega, o padrão se repete: a violência cresce com as disputas por território, os assassinatos e o domínio armado que se impõe sobre comunidades inteiras. Mapa do Comando Vermelho no Brasil Reprodução/Fantástico O governo do Rio afirma que, a partir de 2020, o combate ao crime organizado ficou mais difícil por causa da ADPF 635 — decisão do Supremo Tribunal Federal que impôs regras e limites às operações policiais nas favelas, após denúncias de mortes de inocentes e abusos. Segundo o governo, nesse cenário de menor repressão, os traficantes se reestruturaram, se armaram ainda mais e ampliaram o domínio sobre novos territórios. Mas, no enfrentamento às facções que aterrorizam populações inteiras, um dado chama atenção: o investimento em inteligência policial no estado, registrado no Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 2024, o próprio governo do Rio declarou ter investido menos de R$ 16 milhões em informação e inteligência — R$ 15,8 milhões. Enquanto isso, estados muito menores, como Acre e Rondônia, aplicaram mais de R$ 300 milhões. Em São Paulo, o investimento declarado passou de R$ 1 bilhão. Segundo o governo do Rio, o valor informado no Anuário pode ter sido resultado de uma classificação orçamentária, já que o investimento total em segurança pública foi muito maior. O estado afirma que só as câmeras corporais custaram mais do que o valor citado. Em nota, o governo complementou a informação: disse que investiu R$ 53 milhões em inteligência apenas nas polícias e, nos últimos cinco anos, R$ 4,5 bilhões em tecnologia. O que dizem especialistas? Na avaliação de especialistas, as megaoperações, em que a polícia entra e depois se retira, não bastam para conter o avanço do crime organizado. O coordenador de Urbanismo Social e Segurança Pública do Insper, Ricardo Balestreri, explica que as megaoperações começaram na década de 90, e que, em sua e experiência, os territórios invadidos estarão totalmente normalizados pelo crime em uma ou duas semanas. "O povo precisa da polícia. A polícia é um direito que o povo tem para cuidar dos seus outros direitos. Agora, a polícia tem que ser de proximidade", afirma o especialista. O secretário de Segurança Pública do RJ, Victor Santos, afirma que o Estado não tem condições de manter policiais dentro das comunidades de forma permanente. ISSO É FANTÁSTICO O podcast 'Isso É Fantástico' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o 'Isso É Fantástico' no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo.

FONTE: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/11/02/comando-vermelho-como-a-faccao-se-espalhou-pelo-brasil-e-desafia-o-combate-ao-crime-organizado-no-pais.ghtml


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