Estudantes e cientistas brasileiros são afetados pela incerteza sobre concessão ou renovação de vistos para os EUA
25/06/2025
(Foto: Reprodução) Há décadas, os Estados Unidos estão no topo da ciência mundial, das novidades que o mundo quer ou precisa. Antes de Trump declarar guerra às universidades e aos imigrantes, milhares de acadêmicos estrangeiros ajudavam nessa tarefa nobre. Cientistas brasileiros são afetados pela incerteza da concessão de vistos para os EUA
Estudantes e cientistas brasileiros já estão sendo afetados pela incerteza sobre a concessão ou a renovação de vistos para os Estados Unidos.
Lorena Souza investiu em um sonho grande para ela, como pesquisadora, e para região do cacau na Bahia, onde estuda, vive e trabalha.
“A gente quer ajudar os pequenos agricultores da região a serem inseridos em mercados de crédito de carbono, a serem pagos para manterem as áreas de remanescentes de vegetação das propriedades e também no planejamento territorial da região”, diz a geotecnóloga Lorena Souza.
Para isso, ela conheceu um orientador de pesquisa nos Estados Unidos, foi aceita como bolsista em um laboratório ligado à Nasa, mas veio a suspensão de vistos do governo Trump e a incerteza.
“Já começamos esse trâmite de procurar outros pesquisadores na Europa. Então, resumindo, são dias meio frustrantes", conta Lorena.
Há décadas, os Estados Unidos estão no topo da ciência mundial, das novidades que o mundo quer ou precisa. Antes de Trump declarar guerra às universidades e aos imigrantes, milhares de acadêmicos estrangeiros ajudavam nessa tarefa nobre.
O mineiro Luiz Gustavo Pimenta Martins era um deles. Olha o nome dele em uma publicação científica ao lado de colegas do exterior. Depois de dez anos como pesquisador na Universidade de Harvard e no MIT, ele retornou. Ter bolsa do CNPq - o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico - foi fundamental.
“Eu já tinha decidido voltar antes do início do governo do Trump, mas o governo dele... Esse período meio que fortaleceu a minha intenção de voltar”, diz o físico Luiz Gustavo Pimenta Martins.
A Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, a Fapesp, espera atrair brasileiros e estrangeiros em uma chamada pública que está em andamento para 40 bolsas para pesquisadores jovens e seniores.
“Além disso, da bolsa, a Fapesp paga a viagem, um auxílio-instalação correspondente a duas mensalidades e um financiamento robusto para que eles possam desenvolver as pesquisas aqui nas universidades ou institutos no estado de São Paulo”, afirma Márcio de Castro Silva Filho, diretor-científico da Fapesp.
Estudantes e cientistas brasileiros são afetados pela incerteza sobre concessão ou renovação de vistos para os EUA
Jornal Nacional/ Reprodução
Um exemplo de que a boa ciência não pode ter fronteiras, mas precisa de investimento e diplomacia: o Instituto Pasteur-USP é um conjunto de laboratórios de ponta construídos e mantidos graças a parceiros brasileiros e internacionais. De lá saíram testes de Covid na pandemia e podem sair novas vacinas, como a que um grupo - que tem brasileiros e uma argentina - está pesquisando.
“Quando a gente fala de vírus, a gente sempre tem novas variantes. Então, a nossa vacina tenta buscar um alvo que seja conservado entre as variantes para a gente ter uma proteção mais duradoura”, afirma Fábio Mambelli Silva, pesquisador do Instituto Pasteur de São Paulo.
A diretora do instituto vê dois lados na situação atual: prejuízo de um lado:
“Na ciência, se você não tem... Se você diminui, como está acontecendo em alguns países, diminuição de 18%, 20% do financiamento da ciência e da diplomacia científica, você vai prejudicar gerações de cientistas e gerações de dados. E isso tudo é muito difícil de a gente recuperar em décadas”, diz Paola Minoprio, diretora-executiva do Instituto Pasteur de São Paulo.
E chance do outro:
“Uma oportunidade que a gente tem de trazer gente boa de fora para vir para cá nos ajudar a continuar implementando a ciência brasileira. A colaboração entre as pessoas, o resultado dessa colaboração, é um patrimônio da humanidade”, afirma.